sexta-feira, 28 de março de 2014

A Mulher Mais Linda Da Cidade – Charles Bukowski

O post de hoje será um conto do meu escritor favorito Charles Bukowski. Ele fala sobre a mulher mais linda da cidade, e de como ele "perdeu" ela. Esse conto fala sobre a beleza da mulher, a inveja e o amor, mesmo que escondido. É meu conto favorito, de todos que já li. 
(Não ligue para os palavrões ou pornografias, o Bukowski é assim mesmo.) 

A Mulher Mais Linda Da Cidade 
– Charles Bukowski



Das 5 irmãs, Cass era a mais moça e a mais bela. E a mais linda mulher da cidade. Mestiça de índia, de corpo flexível, estranho, sinuoso que nem cobra e fogoso como os olhos: um fogaréu vivo ambulante. Espírito impaciente para romper o molde incapaz de retê-lo. Os cabelos pretos, longos e sedosos, ondulavam e balançavam ao andar. Sempre muito animada ou então deprimida, com Cass não havia esse negócio de meio termo. Segundo alguns, era louca. Opinião de apáticos. Que jamais poderiam compreendê-la. Para os homens, parecia apenas uma máquina de fazer sexo e pouco estavam ligando para a possibilidade de que fosse maluca. E passava a vida a dançar, a namorar e beijar. Mas, salvo raras exceções, na hora agá sempre encontrava forma de sumir e deixar todo mundo na mão.

As irmãs a acusavam de desperdiçar sua beleza, de falta de tino; só que Cass não era boba e sabia muito bem o que queria: pintava, dançava, cantava, dedicava-se a trabalhos de argila e, quando alguém se feria, na carne ou no espírito, a pena que sentia era uma coisa vinda do fundo da alma. A mentalidade é que simplesmente destoava das demais: nada tinha de prática. Quando seus namorados ficavam atraídos por ela, as irmãs se enciumavam e se enfureciam, achando que não sabia aproveitá-los como mereciam. Costumava mostrar-se boazinha com os feios e revoltava-se contra os considerados bonitos — “uns frouxos”, dizia, “sem graça nenhuma. Pensam que basta ter orelhinhas perfeitas e nariz bem modelado… Tudo por fora e nada por dentro…” Quando perdia a paciência, chegava às raias da loucura; tinha um gênio que alguns qualificavam de insanidade mental.

O pai havia morrido alcoólatra e a mãe fugira de casa, abandonando as filhas. As meninas procuraram um parente, que resolveu interná-las num convento. Experiência nada interessante, sobretudo para Cass. As colegas eram muito ciumentas e teve que brigar com a maioria. Trazia marcas de lâmina de gilete por todo o braço esquerdo, de tanto se defender durante suas brigas. Guardava, inclusive, uma cicatriz indelével na face esquerda, que em vez de empanar-lhe a beleza, só servia para realçá-la.

Conheci Cass uma noite no West End Bar, Fazia vários dias que tinha saído do convento. Por ser a caçula entre as irmãs, fora a última a sair. Simplesmente entrou e sentou do meu lado. Eu era provavelmente o homem mais feio da cidade — o que bem pode ter contribuído.

— Quer um drinque? — perguntei.

— Claro, por que não?

Não creio que houvesse nada de especial na conversa que tivemos essa noite. Foi mais a impressão que causava. Tinha me escolhido e ponto final. Sem a menor coação. Gostou da bebida e tomou varias doses. Não parecia ser de maior idade, mas, não sei como, ninguém se recusava a servi-la. Talvez tivesse carteira de identidade falsa, sei lá. O certo é que toda vez que voltava do toalete para sentar do meu lado, me dava uma pontada de orgulho. Não só era a mais linda mulher da cidade como também das mais belas que vi em toda minha vida. Passei-lhe o braço pela cintura e dei-lhe um beijo.

— Me acha bonita? — perguntou.

— Lógico que acho, mas não é só isso… é mais que uma simples questão de beleza…

— As pessoas sempre me acusam de ser bonita. Acha mesmo que eu sou?

— Bonita não é bem o termo, e nem te faz justiça.

Cass meteu a mão na bolsa. Julguei que estivesse procurando um lenço. Mas tirou um longo grampo de chapéu. Antes que pudesse impedir, já tinha espetado o tal grampo, de lado, na ponta do nariz. Senti asco e horror.

Ela me olhou e riu.

— E agora, ainda me acha bonita? O que é que você acha agora, cara?

Puxei o grampo, estancando o sangue com o lenço que trazia no bolso. Diversas pessoas, inclusive o sujeito que atendia no balcão, tinham assistido a cena. Ele veio até a mesa:

— Olha — disse para Cass, — se fizer isso de novo, vai ter que dar o fora. Aqui ninguém gosta de drama.

— Ah, vai te foder, cara!

— É melhor não dar mais bebida pra ela — aconselhou o sujeito.

— Não tem perigo — prometi.

— O nariz é meu — protestou Cass, — faço dele o que bem entendo.

— Não faz, não — retruquei, — porque isso me dói.

— Quer dizer que eu cravo o grampo no nariz e você é que sente dor?

— Sinto, sim. Palavra.

— Está bem, pode deixar que eu não cravo mais. Fica sossegado.

Me beijou, ainda sorrindo e com o lenço encostado no nariz. Na hora de fechar o bar, fomos para onde eu morava. Tinha um pouco de cerveja na geladeira e ficamos lá sentados, conversando. E só então percebi que estava diante de uma criatura cheia de delicadeza e carinho. Que se traia sem se dar conta. Ao mesmo tempo que se encolhia numa mistura de insensatez e incoerência. Uma verdadeira preciosidade. Uma jóia, linda e espiritual. Talvez algum homem, uma coisa qualquer, um dia a destruísse para sempre. Fiquei torcendo para que não fosse eu.

Deitamos na cama e, depois que apaguei a luz, Cass perguntou:

— Quando é que você quer transar? Agora ou amanhã de manhã?

— Amanhã de manhã — respondi, — virando de costas pra ela.

No dia seguinte me levantei e fiz dois cafés. Levei o dela na cama.

Deu uma risada.                                     

— Você é o primeiro homem que conheço que não quis transar de noite.

— Deixa pra lá — retruquei, — a gente nem precisa disso.

— Não, pára aí, agora me deu vontade. Espera um pouco que não demoro.

Foi até o banheiro e voltou em seguida, com uma aparência simplesmente sensacional — os longos cabelos pretos brilhando, os olhos e a boca brilhando, aquilo brilhando… Mostrava o corpo com calma, como a coisa boa que era. Meteu-se em baixo do lençol.

— Vem de uma vez, gostosão.

Deitei na cama.

Beijava com entrega, mas sem se afobar. Passei-lhe as mãos pelo corpo todo, por entre os cabelos. Fui por cima. Era quente e apertada. Comecei a meter devagar, compassadamente, não querendo acabar logo. Os olhos dela encaravam, fixos, os meus.

— Qual é o teu nome? — perguntei.

— Porra, que diferença faz? — replicou.

Ri e continuei metendo. Mais tarde se vestiu e levei-a de carro de novo para o bar. Mas não foi nada fácil esquecê-la. Eu não andava trabalhando e dormi até às 2 da tarde. Depois levantei e li o jornal. Estava na banheira quando ela entrou com uma folhagem grande na mão — uma folha de inhame.

— Sabia que ia te encontrar no banho — disse, — por isso trouxe isto aqui pra cobrir esse teu troço aí, seu nudista.

E atirou a folha de inhame dentro da banheira.

— Como adivinhou que eu estava aqui?

— Adivinhando, ora.

Chegava quase sempre quando eu estava tomando banho. O horário podia variar, mas Cass raramente se enganava. E tinha todos os dias a folha de inhame. Depois a gente trepava.

Houve uma ou duas noites em que telefonou e tive que ir pagar a fiança para livrá-la da detenção por embriaguez ou desordem.

— Esses filhos da puta — disse ela, — só porque pagam umas biritas pensam que são donos da gente.

— Quem topa o convite já está comprando barulho.

— Imaginei que estivessem interessados em mim e não apenas no meu corpo.

— Eu estou interessado em você e também no seu corpo. Mas duvido muito que a maioria não se contente com o corpo.



Me ausentei seis meses da cidade, vagabundeei um pouco e acabei voltando. Não esqueci Cass, mas a gente havia discutido por algum motivo qualquer e me deu vontade de zanzar por aí. Quando cheguei, supus que tivesse sumido, mas nem fazia meia hora que estava sentado no West End Bar quando entrou e veio sentar do meu lado.

— Como é, seu sacana, pelo que vejo já voltou.

Pedi bebida para ela. Depois olhei. Estava com um vestido de gola fechada. Cass jamais tinha andado com um traje desses. E logo abaixo de cada olheira, espetados, havia dois grampos com ponta de vidro. Só dava para ver as pontas, mas os grampos, virados para baixo, estavam enterrados na carne do rosto.

— Porra, ainda não desistiu de estragar sua beleza?

— Que nada, seu bobo, agora é moda.

— Pirou de vez.

— Sabe que sinto saudade — comentou.

— Não tem mais ninguém no pedaço?

— Não, só você. Mas agora resolvi dar uma de puta. Cobro dez pratas. Pra você, porém, é de graça.

— Tira esses grampos daí.

— Negativo. É moda.

— Estão me deixando chateado.

— Tem certeza?

— Claro que tenho, pô.

Cass tirou os grampos devagar e guardou na bolsa.

— Por que é que faz tanta questão de esculhambar o teu rosto? — perguntei. — Quando vai se conformar com a idéia de ser bonita?

— Quando as pessoas pararem de pensar que é a única coisa que eu sou. Beleza não vale nada e depois não dura. Você nem sabe a sorte que tem de ser feio. Assim, quando alguém simpatiza contigo, já sabe que é por outra razão.

— Então tá. Sorte minha, né?

— Não que você seja feio. Os outros é que acham. Até que a tua cara é bacana.

— Muito obrigado.

Tomamos outro drinque.

— O que anda fazendo? — perguntou.

— Nada. Não há jeito de me interessar por coisa alguma. Falta de ânimo.

— Eu também. Se fosse mulher, podia ser puta.

— Acho que não ia gostar de um contato tão íntimo com tantos caras desconhecidos. Acaba enchendo.

— Puro fato, acaba enchendo mesmo. Tudo acaba enchendo.

Saímos juntos do bar. Na rua as pessoas ainda se espantavam com Cass. Continuava linda, talvez mais do que antes.

Fomos para o meu endereço. Abri uma garrafa de vinho e ficamos batendo papo. Entre nós dois a conversa sempre fluía espontânea. Ela falava um pouco, eu prestava atenção, e depois chegava a minha vez. Nosso diálogo era sempre assim, simples, sem esforço nenhum. Parecia que tínhamos segredos em comum. Quando se descobria um que valesse a pena, Cass dava aquela risada — da maneira que só ela sabia dar. Era como a alegria provocada por uma fogueira. Enquanto conversávamos, fomos nos beijando e aproximando cada vez mais. Ficamos com tesão e resolvemos ir para a cama, Foi então que Cass tirou o vestido de gola fechada e vi a horrenda cicatriz irregular no pescoço — grande e saliente.

— Puta que pariu, criatura — exclamei, já deitado. — Puta que pariu. Como é que você foi me fazer uma coisa dessas?

— Experimentei uma noite, com um caco de garrafa. Não gosta mais de mim? Deixei de ser bonita?

Puxei-a para a cama e dei-lhe um beijo na boca. Me empurrou para trás e riu.

— Tem homens que me pagam as dez pratas, aí tiro a roupa e desistem
de transar. E eu guardo o dinheiro pra mim. É engraçadíssimo.

— Se é — retruquei, — estou quase morrendo de tanto rir… Cass, sua cretina, eu amo você… mas pára com esse negócio de querer se destruir. Você é a mulher mais cheia de vida que já encontrei.

Beijamos de novo. Começou a chorar baixinho. Sentia-lhe as lágrimas no rosto. Aqueles longos cabelos pretos me cobriam as costas feito mortalha. Colamos os corpos e começamos a trepar, lenta, sombria e maravilhosamente bem.

Na manhã seguinte acordei com Cass já em pé, preparando o café. Dava a impressão de estar perfeitamente calma e feliz. Até cantarolava. Fiquei ali deitado, contente com a felicidade dela. Por fim veio até a cama e me sacudiu.

— Levanta, cafajeste! Joga um pouco de água fria nessa cara e nessa pica e vem participar da festa!

Naquele dia convidei-a para ir à praia de carro. Como estávamos na metade da semana e o verão ainda não tinha chegado, encontramos tudo maravilhosamente deserto. Ratos de praia, com a roupa em farrapos, dormiam espalhados pelo gramado longe da areia. Outros, sentados em bancos de pedra, dividiam uma garrafa de bebida tristonha. Gaivotas esvoaçavam no ar, descuidadas e no entanto aturdidas. Velhinhas de seus 70 ou 80 anos, lado a lado nos bancos, comentavam a venda de imóveis herdados de maridos mortos há muito tempo, vitimados pelo ritmo e estupidez da sobrevivência. Por causa de tudo isso, respirava-se uma atmosfera de paz e ficamos andando, para cima e para baixo, deitando e espreguiçando-nos na relva, sem falar quase nada. Com aquela sensação simplesmente gostosa de estar juntos. Comprei sanduíches, batata frita e uns copos de bebida e nos deixamos ficar sentados, comendo na areia. Depois me abracei a Cass e dormimos encostados um no outro durante quase uma hora. Não sei por quê, mas foi melhor do que se tivessemos transado. Quando acordamos, voltamos de carro para onde eu morava e fiz o jantar. Jantamos e sugeri que fossemos para a cama. Cass hesitou um bocado de tempo, me olhando, e ao respondeu, pensativa:

— Não.

Levei-a outra vez até o bar, paguei-lhe um drinque e vim-me embora. No dia seguinte encontrei serviço como empacotador numa fábrica e passei o resto da semana trabalhando. Andava cansado demais para cogitar de sair à noite, mas naquela sexta-feira acabei indo ao West End Bar. Sentei e esperei por Cass. Passaram-se horas. Depois que já estava bastante bêbado, o sujeito que atendia no balcão me disse:

— Uma pena o que houve com sua amiga.

— Pena por quê? — estranhei.

— Desculpe. Pensei que soubesse.

— Não.

— Se suicidou. Foi enterrada ontem.

— Enterrada? — repeti.

Estava com a sensação de que ela ia entrar a qualquer momento pela porta da rua. Como poderia estar morta?

— Sim, pelas irmãs.

— Se suicidou? Pode-se saber de que modo?

— Cortou a garganta.

— Ah. Me dá outra dose.

Bebi até a hora de fechar. Cass, a mais bela das 5 irmãs, a mais linda mulher da cidade. Consegui ir dirigindo até onde morava. Não parava de pensar. Deveria ter insistido para que ficasse comigo em vez de aceitar aquele “não”. Todo o seu jeito era de quem gostava de mim. Eu é que simplesmente tinha bancado o durão, decerto por preguiça, por ser desligado demais. Merecia a minha morte e a dela. Era um cão. Não, para que pôr a culpa nos cães? Levantei, encontrei uma garrafa de vinho e bebi quase inteira. Cass, a garota mais linda da cidade, morta aos vinte anos.

Lá fora, na rua, alguém buzinou dentro de um carro. Uma buzina fortíssima, insistente. Bati a garrafa com força e gritei:

— MERDA! PÁRA COM ISSO, SEU FILHO DA PUTA!

A noite foi ficando cada vez mais escura e eu não podia fazer mais nada.


Post por: Karol Almeida
Fonte: A mulher mais linda da cidade 
& outras histórias - Charles Bukowski

domingo, 23 de março de 2014

Dica: Lupita Nyong'o

  

Lupita Amondi Nyong'o é uma atriz mexicana com naturalidade queniana, . É a primeira de seu país a ser indicada e a vencer um Óscar de melhor atriz secundária (coadjuvante), no filme 12 Anos de Escravidão, além de primeira a vencer o prêmio SAG de melhor atriz secundária em cinema.


Durante a cerimônia de entrega do OscarLupita Nyong'o emocionou o público ao dizer que aquela grande felicidade sentida por ela era, lamentavelmente, consequência de um enorme sofrimento - referindo-se à trajetória de sua personagem em 12 Anos de Escravidão. E terminou aconselhando que outras também acreditem em seus sonhos, como ela própria fez.


Antes de completar um ano, a família voltou para o Quênia, país de origem de onde haviam saído menos de três anos antes do nascimento da segunda dos seis filhos do casal. O retorno ocorreu para que o pai assumisse a função de professor na Universidade de Nairóbi. O nome diferente também tem uma origem curiosa. Lupita é uma carinhosa referência à padroeira do México, Nossa Senhora de Guadalupe.


Em entrevistas, Lupita já contou que sua infância na África foi o primeiro contato com a arte de atuar. Na escola e em família, era a primeira a escolher os personagens e representar para colegas e parentes. Quando completou 16 anos, seus pais a mandaram de volta ao México, para fazer intercâmbio e aprender espanhol - idioma no qual é fluente, junto com inglês, swahili e luo, línguas faladas pelas etnias africanas.

Para levar adiante seu sonho de atuar, estudou cinema na Yale School of Drama, na universidade americada de Yale. Fez figuração, trabalhou atrás das câmeras e estrelou um curta. Sob sua direção foi lançado, em 2009, o documentário In My Genes (Em Meus Genes, em livre tradução), sobre as pessoas albinas no Quênia. Ela foi transitando entre um trabalho e outro até que apareceu o teste para 12 Anos de Escravidão. E a vida nunca mais seria a mesma para Lupita.

Cena do Filme "12 Anos de Escravidão"
As misérias vividas pela personagem no filme contrastam com a imagem que, desde a primeira aparição, Lupita imprimiu no showbizz. Sempre bem vestida e elegante, com corpo atlético e absolutamente nada fora do lugar, ela é a nova sensação dos fashionistas. Sua maquiagem, seus acessórios e, claro, os vestidos que desfila nos tapetes vermelhos, não deixam dúvida de que ela tem estilo e sabe o que está fazendo. Já esteve nos sofás dos principais talkshows dos Estados Unidos, como Oprah Winfrey, Queen Latifah e Ellen DeGeneres, assim como nas capas de revistas como New York e Vanity Fair. Além de prêmios como o do Sindicato dos Atores, Globo de Ouro e Critic's Choice, ela também ganhou os olhares, a atenção e o coração do mundo.



Hoje Lupita esbanja confiança diante das câmeras e nos tapetes vermelhos. Mas nem sempre foi assim.

— Me lembro de um tempo em que não me sentia bonita. Eu ligava a tevê e só via mulheres brancas. Eu era motivo de chacota pela minha pele negra. Mas tudo mudou quando Alek Wek apareceu. Modelo famosa, ela era negra como a noite, estava em todas as revistas e passarelas. Todos comentavam como ela era linda — revelou.



Segundo Lupita, a quebra de paradigma sobre o belo lhe deu forças para perseguir os sonhos e finalmente se ver como uma mulher bonita:

— Um dia, Oprah Winfrey disse que Alek era linda. Eu não conseguia acreditar que as pessoas aceitavam uma mulher que se parecia tanto comigo como um modelo de beleza.

Links:



Post por Karol Almeida
Fonte: Zero Hora

sábado, 22 de março de 2014

Cantada e Cultura do Estupro




Há dias sinto a necessidade de dizer aqui o porque o feminismo é importante. Mas quero focar esse post sobre as cantadas e a liberdade feminina.

Todos os dias, nós mulheres somos obrigadas a SUPORTAR a tal CANTADA. Não consigo entender porque os homens acham que isso nos agrada. É gatinha, gostosa, delícia, boneca... E pode piorar... Já ouvi pessoas que escutaram "te chupo toda". "TE CHUPO TODA" de um desconhecido é a coisa mais nojenta que alguém pode escutar na rua.... Será que esses homens não conseguem entender que NENHUMA mulher vai parar, e agarrar ele na rua por conta de cantadas babacas...




NÃO, cantadas NÃO SÃO elogios. Cantadas são desnecessárias e nojentas. E essa desculpa de "mulher gosta, se sair na rua e ninguém olhar acha que tá feia" É MENTIRA... Quantas vezes já mudei de roupa antes de sair de casa, por conta das possíveis cantadas que seria obrigada a escutar.Homens entendam que elogio é diferente de cantada. Se eu não te conheço, não precisa vir me """"elogiar""". 




Outro dia fui à academia fazer avaliação e precisei ir de short. Escutei tanta bobagem enquanto passava. Eu só queria ir a academia, só queria andar na rua e sou OBRIGADA a escutar cantadas. Isso é incômodo. E, eu que defendo tanto a liberdade da mulher, não consigo revidar as cantadas. A única coisa que faço é fechar a cara. Não consigo xingar, não consigo responder, não consigo nem mostrar o dedo do meio. Porque isso acontece? POR MEDO. Sim, eu ainda sinto medo dos homens. Tenho medo de fazer isso e ser atacada, infelizmente. Fui pra faculdade de short esses dias pra trás. Primeiro, fui obrigada a escutar um MONTE de "trabalhadores" em um ônibus mexendo comigo, e pior, o ônibus parou no sinal e ficou exatamente no ponto. Depois, subi no ônibus que eu esperava. Toda vez que o ônibus parava, torcia pra nenhum homem sentar ao meu lado. Eu estava com medo. 




Depois que escutarmos histórias de outras mulheres, nós percebemos o quanto o feminismo é importante. Nós, mulheres, deveríamos ter a liberdade de usar A ROUPA QUE TIVERMOS VONTADE A HORA QUE QUISERMOS, sem nos preocuparmos com o que vão falar na rua. Deveríamos poder falar o que quisermos, sem nos preocupar com julgamentos. Deveríamos poder ir e voltar a hora e de onde quiséssemos, sem a interferência de ninguém. Infelizmente a realidade não é essa. 



Cantadas de rua também ajudam a perpetuar a cultura do estupro. Como? Simples: ao tratá-las como algo normal, você passa o recado de que é OK um homem dizer a uma mulher o que ele gostaria de fazer com ela sem o consentimento dela, afinal, ela não pediu a opinião dele e não está disponível. Se um homem continua avançando sexualmente em relação a uma mulher, seja com palavras ou ações, sem que ela deseje fazer parte disso, isso quer dizer o quê? (visto aqui: http://migre.me/isaGA e leia mais sobre cultura do estupro aqui: http://migre.me/isaID)




Indico a página do facebook Cantada de rua - conte o seu caso pra que as pessoas leiam relatos de cantadas, e até estupros. A situação é séria. Homens fazem piadas e acham bobagem, mas esses nunca sentiram na pele o que é querer usar a roupa que quiser, e não poder. Ou apenas sair na rua, em um dia que você nem sequer quer ser notada e escutar o que não quer. Ou, ainda, tentar ser obrigado a ficar com alguém (algo muito comum em shows, micaretas, carnaval...). Os homens que fazem esse tipo de piada não sabem o que é aguentar o dia-a-dia de falsos "elogios" e ainda ter que aceitar. Esses homens não sabem o que é ser mulher. 




Então, não façam aquilo que não gostariam que fizessem com vocês. Empatia existe e pode ser usada. Deixem as pessoas seguirem suas vidas em paz. NINGUÉM QUER A SUA OPINIÃO. Apenas viva a sua vida, e deixe que as outras pessoas vivam as delas. Deem liberdade à mulher e não cultuem a cultura do estupro.



(Obs: E não me venham com a desculpa de que é "instinto")



Relembrando um caso, já esquecido pela mídia, INFELIZMENTE.



Post por: Karol Almeida
Imagens: Google (caso alguém seja dono das imagens, 
favor me avisar para colocar os devidos créditos).